terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Um olhar sobre o futebol em Salta

La hinchada do Gimnasia y Tiro aguarda a abertura da temporada no Gigante del Norte. Foto: Alessandro Bracht

Salta, província ao norte da Argentina, há mais de mil quilômetros de Buenos Aires, é um lugar bom para se estar quando, entre outras coisas, se gosta de futebol. Pois a cidade de mesmo nome e capital da província reúne alguns méritos futboleros que merecem referência. Em primeiro, apesar de não contar com nenhuma equipe na Primera A, a divisão principal do futebol argentino, ou mesmo na Primera B, os torcedores existem e não estão lá pela comodidade de prestarem adoração aos vencedores da capital federal. Tais clubes são atrações efêmeras no torneio de verão local, que em 2010 contou com Racing Club, Independiente e River Plate - o que suscita uma brincadeira que perdeu o sentido em função dos últimos acontecimentos. Quando na primeira divisão, os torcedores do Gimnasia y Esgrima, da província vizinha de Jujuy, ironizavam os salteños com a máxima que dizia algo como: se querem futebol no verão, visitem Salta. Se querem futebol o ano inteiro, visitem Jujuy. Mas há um par de anos, os de Jujuy foram rebaixados e o chiste temporariamente suspenso. Assim que, pelas ruas, muitos caminham exibindo as camisetas do Centro Juventud Antoniana, do Club Gimnasia y Tiro e do Club Atletico Central Norte. Enquanto os antonianos atuam em uma das terceiras divisões da Argentina (Torneo Argentino A), Gimnasia y Tiro e Central Norte ocupam o mesmo grupo de uma das quartas divisões regionais, o Torneo Argentino B, ao lado de equipes de localidades como Tucumán e Concepción. O mérito seguinte é que a cidade não conta com nenhuma equipe que tenha tido a pobre idéia de vestir o vermelho, algo que dá cores pacíficas ao futebol de Salta. E assim é. Pelo menos segundo seus interlocutores locais. Se há rivalidade? Sim. Se ela resulta em alguma violência? Não, garantiram todos aqueles com quem falei. Há cânticos maldizendo o adversário e isso não poderia deixar de acontecer, mas, aparentemente, nada além disso. A atmosfera da cidade e do jogo em que estive - assunto para logo mais - deram sinais desse comportamento futebolisticamente exemplar. Entretanto, na partida que ocorreu pela terceira rodada do Argentino B, a banda millonaria foi proibida, a pedido da polícia de Tucumán, de visitar a cancha do La Florida. Também o torcedor que me passou a maior quantidade de informações sobre seu clube afirmou que, no alto de seus 18 anos, sua mãe o proibia de ir aos jogos fora de casa. Em verdade, são poucos as partidas das divisões inferiores na Argentina em que a torcida visitante está autorizada a aparecer. Mas para tirar a prova de tal pacifismo, eu deveria estar presente ao clássico local, entre Gimnasia y Tiro e Central Norte, a ocorrer na sexta rodada. De acordo com o hincha informante, o único jogo em que a cancha fica repleta é esse, o encontro entre millonarios y cuervos. Este apelido dá-se pelo uniforme negro usado pelo Central. Quanto aos millonarios, em um passado distante a torcida era composta pela elite salteña, o que visivelmente não mais ocorre. Em uma divisão acima, os antonianos estão sem um derby para jogar.

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