segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Coisas possíveis (?) e que eu gostaria de ver no futebol em 2011

Será possível um dia olhar e ver aquilo que se gostaria de ver pelo bem do futebol?

Para os detratores da fórmula de pontos corridos (que merece alguns ajustes, é verdade) pararem com os gritos de “mata-mata, mata-mata!”, que as copas do Brasil, Santader Libertadores e Nissan Sudamericana durassem a temporada inteira. Assim, a Copa do Brasil também poderia receber os candidatos ao título da Libertadores e a competição voltaria a ser algo mais que uma seletiva para principal competição continental. Além disso, a temporada terminaria com três finais empolgantes e o Brasileirão manteria sua fórmula atual sem percalços;

Que após os estaduais, os clubes campeões da Copa do Brasil e do Brasileirão abrissem a temporada nacional em um jogo único, que definisse o Supercampeão do Brasil;

Em resumo, as duas propostas acima copiariam o modelo europeu, tão celebrado na América do Sul, mas não seguido aqui no que há de bom;

Que os cagões dos clubes brasileiros tomassem vergonha na cara e botassem o Ricardo Texeira para correr da CBF. A multimilionária confederação não faz nada pelos clubes, mas os usa para encher seus cofres de dinheiro;

Que houvesse o Dia Mundial de gritar ‘Fuck you, FIFA’, com hora marcada para todos soltarem a voz em uníssimo mundo afora;

A aposentadoria do Héber Roberto Lopes (conversa com ele, Simon. Você já nos livrou de você mesmo. Não custa fazer algo mais...);

Que os analistas de arbitragem midiáticos perdessem seus empregos;

Que um lutador de vale-tudo desse uma camaçada de pau corretiva no Neymar. Nunca o imbecil e o craque estiveram tão presentes em um só corpo;

Que os jogadores fossem instruídos a não mais falar ‘onde que’, ‘professor’ e outros jargões afins. Também seria justo que eles parassem de agradecer a Deus como se fossem escolhidos do poder divino para tornarem-se vencedores;

Que os torcedores pacíficos como eu pudessem a voltar a tomar aquela cerveja de má qualidade no estádio. Há que se banir os imbecis e não a mão amiga na hora difícil;

Que os torcedores apoiassem os times de suas cidades;

Que meu time começasse a temporada em tempo de buscar o título;

Outras propostas são bem-vindas.

Club Rubio Ñu x Club Guarani

Da direita para a esquerda: na hinchada guarani, a senhora avantajada come por dois; Francisco Arce assiste a despedida de 2011 com ares e preocupação; mais trapos que torcedores em La Arboleda; Nery Cardozo comemora o primeiro tento do empolgante embate; o estranho salto de Cabral destaca-se no gol de empate do Guarani; o púbere Nildo Viera recebe o carinho dos companheiros. Fotos autênticas: Alessandro Bracht
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Jogo: Club Rubio Ñu 2x2 Club Guarani
Data: 04 de dezembro de 2010
Competição: División Profesional
Local: Estádio Don Eduardo Acosta Caballero (La Arboleda)
Público: inferior ao número de árvores e trapos presentes

Afirmar que aquilo que acontece dentro de campo no futebol é apenas uma parcela do que o representa é mais que lugar comum. Aqui nesse espaço então... “Pronto, lá vem ele novamente para denunciar a corrupção das federações, as desigualdades econômicas, as mazelas sociais”, poderia dizer alguns dos meus contáveis seguidores/leitores. Não há como negar que, em se tratando de Paraguai, as chances de cair no tema não são as menores. Afinal, no Paraguai está a sede da Confederación Sudamericana de Fútbol (Conmebol), seu presidente desde 1986 – o sr. Nicolás Leoz – é paraguaio e o clube para o qual supostamente torce é aquele que em anos recentes assumiu o protagonismo do futebol local, seja dentro ou fora do país, o tal Libertad – clube de arquibancadas vazias que no último domingo conquistou o campeonato da primeira divisão pela quinta vez nos últimos seis anos. Apesar de razões para suspeitar, não se pode acusar por achismo. Porém, a manobra autoritária do sr. Leoz para tirar uma vaga brasileira na Copa Santander Libertadores de 2011 serve para mostrar que ele não é exatamente um homem de palavra – deve ser inclusive por isso que ele mantém tão boas relações com figuras como Ricardo Teixeira e Julio Grondona, outros dois expoentes da eternização ditatorial futebolística na América do Sul. Mas como a intenção primeira não é a da denúncia, ainda que ela tenha ocorrido em linhas frágeis, fica a ideia central de falar sobre o que acontece para além do campo em um espaço muito próximo, pelo menos geograficamente, ao mesmo, ou seja, a arquibancada (ou os assentos marcados, fazer o quê?). Porque existe uma relação que para muitos é direta e com a qual discordo: plateia numerosa e bom futebol. Se o estádio está tomado, existe a certeza de que em campo algo de bom ocorrerá. Se está pouco frequentado, a tendência é um jogo de murchas qualidades e pouca ou nenhuma emoção. Bons jogadores, instalações confortáveis, mídia, o que está em disputa, elementos que certamente atraem audiência. Mas ainda que seja inegável que uma torcida empolgada e numerosa tenha o potencial de gerar poderosos sons e belas imagens, ela ou sua falta não obrigatoriamente fazem do jogo o reflexo das expectativas. É o caso do confronto aqui em questão, pela última rodada do campeonato paraguaio de 2010, a División Profesional. Sem aspirações maiores que uma vaga para a Sul-Americana 2011, o Club Guarani visitou o Club Rubio Ñu nas dependências do pequeníssimo estádio apelidado La Arboleda, de arquibancadas de um lado e atrás das goleiras e de árvores imensas do outro, em um bairro de Asunción nomeado Santíssima Trindade. E as baixíssimas expectativas foram varridas por força de um jogo de futebol de fartas oportunidades de gol, que ora tornaram-se realidade, ora pararam nas mãos dos dois arqueiros. E certamente mais tentos não ocorreram na imprecisão de muitos dos chutes de dois times sem individualidades notáveis. Nesse último aspecto, os primeiros sete minutos foram do argentino Cesar Hugo Notário, atacante do scretch Guarani. Ele conseguiu o feito de arrematar duas vezes do lado direito da entrada da grande área em direção a lateral. Mais que isso, uma com cada perna. Mas ele faria coisas melhores no decorrer da partida, aparentemente de forma ocasional: no primeiro gol de sua equipe, ele se chocaria com um companheiro que pretendia o mesmo: a conclusão. Do chute simultâneo, a bola espirraria para cair nos pés de Nildo Viera, 17 anos e debutante no futebol profissional, marcar quase da entrada da pequena área aos 27 minutos. No minuto 56, mais uma notarice digna de nota: ao tentar cruzamento da lateral direita, o delantero-destaque quase encobre o arqueiro e conterrâneo Osvaldo Cabral. Seria um lindo gol. Entretanto, a despeito dos esforços individuais de Notário, houve muito mais. Da parte do Rubio Ñu, muitas e bem construídas jogadas pelas extremas, talvez produto dos ensinamentos de seu técnico Francisco Arce, histórico lateral-direito que chegou ao Brasil anônimo e saiu duas vezes campeão da América. Do lado direito do campo – mundo de Arce – se originariam os dois gols dos albiverdes. No primeiro, em uma cobrança de escanteio, a bola desviada para trás por um atleta do Guarani se ofereceria para Nery Cardozo concluir e marcar. O segundo iniciou com um passe preciso do meiocampista Robin Ramírez que chegou aos pés de Arnaldo Rodríguez. Este cruzou forte e rasteiro. Entre diversos pés defensores, venceu o de Osvaldo Hobecker. A bola, chutada de primeira, passou veloz pelo goleiro Joel Silva no minuto 42. O narrador da partida afirmou categoricamente que uma descarga elétrica atingiu as proximidades do estádio no exato momento do gol. Precisando da vitória, o Guarani tentou alcançar as redes do Rubio Ñu muitas vezes. A pressão aumentou depois da expulsão de Viera. E foi razoavelmente premiada aos 93 minutos, quando Julian Benitez (tente encontrar um jogo no Paraguai sem um Benitez) aparou um cruzamento no peito, deixou a bola descer e chutou antes que ela tocasse a grama amarelada. A pelota saiu fraca, mas passou entre tantas pernas e foi tão no canto que nada pode ser dito a respeito, se a proposta é culpar o já castigado Cabral, até então o nome do segundo tempo. Depois das celebrações e lamentações, bastou o jogo recomeçar no meio-campo para ser encerrado. Assim como também estava encerrada a temporada para os pequenos Rubio Ñu e Guarani. Ambos saíram de mãos vazias de 2010, mas deixaram ótima impressão para quem gosta de futebol simplesmente pelo que ele é (ou melhor, deveria ser). Pena que os fanáticos torcedores da comunidade Orkut do Manchester United não tenham visto a partida.