terça-feira, 13 de abril de 2010

Club Deportivo Los Millonarios x Independiente Santa Fe

A hinchada do CD Los Millonarios, às portas do rebaixamento, pede o que todos desejamos. Foto: Alessandro Bracht (mais uma vez, in loco y loco!)
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Jogo: Club Deportivo Los Millonarios 2x1 Independiente Santa Fe
Data: 28 de março de 2010
Competição: Liga Postobon
Local: Estádio Nemesio Camacho (El Campín)
Público: Muito para a Colômbia, médio para um clássico
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Há um pouco de Porto Alegre em Bogotá, uma dose de Olímpico no El Campín. Pois quando soou o hino nacional da Colômbia, poucas vozes o acompanharam em meio a quase total indiferença. Mas na vez do hino da capital, os muitos presentes (especialmente para os padrões de público da Liga Postobon) cantaram-no como se fossem um. Além do localismo na veia, o jogo em questão tinha algo mais de sul-riograndense: tratava-se do clássico de Bogotá, rivalidade intensa, azul contra vermelho, um time em crise contra outro em busca das primeiras posições – a chamada gangorra do futebol, típica de uma cidade-Estado com apenas duas forças. Mas justamente pelos elementos que o envolviam, um match que é pura exceção no atual cenário do futebol colombiano, tão celebrado e visível no apagar da década de 1980 até a metade da seguinte, através da seleção nacional de muitos bons jogadores e egos inflados, e dos dois times que fizeram belas figuras na então chamada Taça Libertadores da América (hoje Copa Santander), o Atlético Nacional, de Medellín – campeão em 1989 e vice em 1995, e o América de Cali, finalista 85/86/87 e 96, mas hoje de estádios semivazios, de ausência em Copas do Mundo, de participação pálida em competições clubísticas internacionais.
Como explicar essa transformação? Ora, tudo desabou rápido pois grande parte do financiamento para essas duas poderosas equipes vinha daquele setor econômico que ainda estigmatiza a Colômbia, ou seja, o narcotráfico dos grandes cartéis, extintos graças à ação conjunta dos governos norte-americano e local. Simplificando, os Diablos Rojos eram controlados pelos irmãos Rodríguez Orejuela; o Atlético Nacional vivia as expensas de Pablo Escobar. O Millonarios, com menor destaque internacional, vivia daquilo que o periodista britânico Henry Mance chamou de “generosidade” da parte de Gonzalo Rodríguez Gacha, conhecido como “O Mexicano”. E o último clube colombiano a se destacar foi a surpresa da Libertadores 2007, o Cucuta Deportivo, que em temporadas consecutivas venceu a segunda (2005) e a primeira divisão (2006) até chegar a semifinal da principal competição continental da América do Sul. Com esse 'cartel' de vitórias, não foi de se surpreender a descoberta que o Cucuta tinha o suporte de Jorge 40, líder paramilitar e hoje morador da prisão de Itagui. Sobre o Once Caldas, estranho campeão da Libertadores em 2004, não há reparos que tenham chegado ao conhecimento público e ninguém pode ser culpado por suspeita. A tabela de posições diz algo mais a respeito do atual estado de coisas: o primeiro colocado é o Tolima. Até três rodadas atrás, o líder era o Real Cartagena (4º). O Nacional é o nono, enquanto América (16º) e Millonarios (17º) não fazem mais que lutar contra o indecoroso rebaixamento.
Hora de deixar a tristeza de lado. Vivas ao futebol e a sorte deste que vos fala de estar em Bogotá justamente no domingo do derby da capital colombiana. De dois amigos que estiveram no El Campín para um jogo do Independiente Santa Fe, só tive as piores notícias: torcida pequena e pouco empolgada, jogo lerdo e sonolento. Mas não era um clássico que não era ganho pelo Millonários havia dez ocasiões. E não era um jogo que poderia colocar o Santa Fe na cola dos líderes de então. Desde o princípio, entretanto, o Millonarios parecia o único interessado em vencer, pois em pouco mais de 20 minutos criou quatro chances daquelas que somente um time as raias do descenso consegue perder. Depois de um período de bola presa no meio-campo, os de azul voltariam a carga, desperdiçariam mais um par de chances e o primeiro tempo acabaria. Ficou no ar aquele medo de que os desperdícios cobrariam seu preço na segunda etapa. Não foi o que ocorreu. No seu primeiro minuto, Luis Mosquera cabeceou um cruzamento de Esteban Ramírez e desengasgou a torcida do conjunto ‘Embajador’. Sem coragem para buscar mais, mirando aquele 1x0 e os três pontos como uma espécie de milagre em meio ao caos, os albiazules recuaram e o Santa Fe passou a cercar sua área. Um cerco sem muita efetividade, mas que, claro, desperta a neurose de uma torcida que assiste sua equipe em profunda crise e está sempre vendo o pior acontecer. Uma dose de alívio viria aos 26 minutos, quando o rojo Juan Quintero deixou a mão na cara de Elvis Perlaza e recebeu um cartão para combinar com o uniforme que vestia. Doze minutos depois, veio o segundo gol, através de John Ulloque (só falta a mãe dele me dizer tratar-se de um tributo ao pré-iluminista John Locke), que recebeu o passe diretamente da trave e ficou com a glória. Alívio, delírio azul nos acentos em que ninguém senta. Isso até os 47 minutos, hora do desconto do Santa Fe, que suspendeu a respiração dos Millos até o apito final de Óscar Ruiz, o único colombiano que deve colocar os pés nos gramados da África em 2010.