segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Esporte Clube São José x Esporte Clube Cruzeiro

Da esquerda para a direita: na torcida cruzeirista, as faixas buscam preencher o vazio; a barra do São José se espreme contra a tela; Chiquinho leva nos braços sua mais importante realização dos últimos tempos; depois da bolada atordoante, o assistente recebe cuidados médicos; no futebol, como na vida, o autor da falta sempre se diz inocente; junto ao alambrado, o menino retrata a solidão de um derby esquecido. Fotos: Alessandro Bracht
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Jogo: EC São José 0x0 EC Cruzeiro
Data: 09 de fevereiro de 2011
Competição: Gauchão Coca-Cola
Local: Estádio Morada dos Quero-Queros
Público: miserável

Uma sucessão de erros. Da ideia à execução. Não sobrou quase nada daquele que poderia ser um evento diferenciado em um torneio notadamente chato como o campeonato estadual do Rio Grande do Sul. Portanto, o retorno de um derby capitalino que não ocorria pela divisão principal desde os anos 1970 merecia algo mais que o horário impossível para a maioria dos interessados e o lugar que não fosse um campo neutro na fronteira entre Porto Alegre e o município metropolitano de Alvorada. Pois os jogo foi às 16 horas de uma quarta-feira no estádio do Pedrabranca FC, não sem antes ter sido arremessado para locais e horários diversos. Inicialmente o jogo seria no estádio do mandante em 19 de janeiro. Em função das obras de troca do gramado natural pelo sintético, o jogo seria na mesmo na morada dos Quero-Queros (nome mais que adequado para o tal estádio), local onde o Zequinha manda seus jogos enquanto seus atletas não deslizam sobre os fragmentos de borracha, aqueles mesmos que fazem sua mulher querer te expulsar de casa toda vez que você chega da pelada entre amigos. Entrentanto, em função da participação do Grêmio FBPA na Taça Santander Libertadores, com jogo marcado naquela que seria a data oficial, São José e o Tricolor anteciparam o confronto para 21 de janeiro, impedindo a ocorrência do Zé-Cruz na data original. Novo dia foi marcado, desta feita em três de fevereiro, às 19h30min no Estádio Passo d’Areia, que a essa altura prometia estar pronto. Mais uma vez não estava. Confesso que não sei se em função disso, mas novamente a partida foi adiada. Nova e última possível data: nove de fevereio, às 20h, no finalmente instalado gramado sintético do Passo d’Areia. Agora vai! Não foi. Ou pior, foi. Para bem longe. Um dia antes da partida, ainda que no site oficial do São José o local e a data permanecessem os mesmos, o Cruzeiro divulgava em seu sítio web que o clássico ocorreria mesmo em Alvorada, ainda sem horário definido. Sabia-se apenas que o jogo seria a tarde pois a Morada não conta com iluminação artificial. Na última hora saiu o horário no sempre atrasado site da Federação Gaúcha de Futebol (FGF). Resultado disso: um estádio para mil pessoas com algo com 200 e uma atmosfera ruim, pontuada por comentários dos presentes que convergiam para um ponto comum. Fosse no Passo d’Areia, à noite e com alguma divulgação da imprensa local, haveria um bom público. Torcedores fiéis, simpatizantes, moradores da cercanias do estádio, curiosos, fãs de futebol resultariam certamente em um público bem maior. Que ninguém esperasse um milagre, um campo dos sonhos. Mas algo melhor poderia ter tido lugar. Errou a FGF, que contando com um patrocinador forte nada fez para divulgar o Zé-Cruz. Errou o São José, que não deu conta de encerrar uma obra tão simples como a da instalação de um gramado sintético (se fosse grama natural, haveria perdão). Errou também a imprensa. Não sei do Correio do Pastor, mas a Nota Zero Hora poderia ter colocado uma paginazinha em seu suplemento esportivo contando algo sobre o pequeno clássico. Afinal, o referido periódico pertence ao grupo RBS, mantenedora dos direitos de transmissão do Gauchão Coca-Cola. E se nem quem paga a conta está interessado...
Ao jogo então. Só o que ocorreu em campo poderia salvar o Zé-Cruz. E apesar de tudo para além dele e do campo encharcado, quase chegou lá. Após um começo de estudos, típico de um clássico, que teve como principal atração o nocaute do assistente de arbitragem Jorge Luís da Silva, causado por uma bolada, as equipes foram se soltando. Aos 15 minutos, o lateral-direito Suélinton partiu da metade do campo em alta velocidade, passou por quatro marcadores cruzeiristas e da entrada da área mandou um chute forte. A bola passou perto. A seguir, o Cruzeiro respondeu. Em avanço tramado pelo lado direito, o cruzamento resulta no cabeceio de Márcio. Defesa do bom arqueiro Rafael. A partir daí, o São José tomou conta da partida e a figura foi o goleiro Fábio, ladeado por Rafael Xavier, atacante do Zequinha que sofreu demasiado com a presença da bola e não voltou para o segundo tempo. Outra figura da qual se esperava algo mais, Chiquinho, camisa 10 e ex-promessa do princípio dos anos 2000, parecia seguir mirando um passado que insiste em não retornar. Tratou bem a bola enquanto ela estava em seus pés. Mas a cada jogada mal resolvida revelava sua desmotivação e parecia perguntar-se “o que eu estou fazendo aqui?”. Veio o segundo tempo e com ele um sol de rachar. E também a melhor chance do São José. Em conclusão do centroavante Ale, quase na pequena área, Fábio fez uma defesa que entraria nas jogadas na semana se tivesse ocorrido em uma partida de grandes clubes em alguma grande competição. Daí em diante, chances de perigo médio se alternaram. Até que Tiago Miracema, do São José, tomou o cartão vermelho após atingir Sandro Müller. Ainda não sei se era para tanto, mas o jogador a menos fez o Zequinha recuar e o Cruzeirito assumir as rédeas nos minutos finais. A chance para resolver a partida veio em cruzamento quase da linha de fundo – uma agradável constante no scretch cruzeirista – de Faísca para Jo. Ele cabeceou e a bola raspou o poste esquerdo de Rafael. Com a parada técnica para reidratação e os descontos, a partida foi até os 53 minutos. Fim de jogo e pouco tempo depois o pequeno estádio estava vazio. Na jornada de volta para casa, fiquei pensando que Zé-Cruz espera uma chance para realmente acontecer. Uma esperança que só irá se cumprir caso os promotores do futebol sul-riograndense tenham alguma disposição para isso ao invés de ficarem impávidos esperando as passagens para Abu Dhabi ou Yokohama.