domingo, 7 de junho de 2009

MFK Ruzomberok x SK Slovan Bratislava

Da esquerda para a direita: bico na bola e mais um gol de Milos Lacný; fãs do Ruzomberok comemoram um dos tantos gols; abraços para o artilheiro acidental; o princípio da idiotia: torcedores do Slovan ateiam fogo nos assentos; a exacerbação da idiotia: a fracassada tentiva de invasão ao campo; na chance desperdiçada, a bola bate no travessão e se oferece ao incompetente. Fotos: Alessandro Bracht


Jogo: MFK Ruzomberok 5x1 SK Slovan Bratislava
Data: 30 de maio de 2009
Competição: Corgon Liga
Local: MFK Ruzomberok Stadium
Público: 3450

O campeonato da primeira divisão da Eslováquia está decidido em todos seus aspectos. Campeão e rebaixados já definidos, a disputa de vagas nas fases de grupos das copas européias também. Portanto, Ruzembrock e SK Slovan Bratislava não tinham muito a oferecer nesse primaveril final de temporada. Afinal, que emoções tal encontro futebolístico poderia proporcionar? No máximo, o time da casa – quinto colocado – assumiria o dever de derrubar os campeões em seu domínio enquanto ao Slovan caberia não mais que reforçar as razões que justificam seu tranquilo triunfo, se analisado pela diferença de pontos em relação ao segundo colocado até essa rodada, o MSK Zilina. Entretanto, para um jogo dessa dimensão, tudo que ocorreu soou exagerado. A vitória de 5x1 dos locais, os três gols de Milos Lacný, as faltas violentas, o dia de azar do Slovan, a má conduta dos torcedores visitantes... nada disso era necessário ou, se pensado antes, viável.
Não que o Ruzomberok estivesse proibido de marcar cinco vezes ou Lacný fazer 60% dos gols. Mas de todos os tentos, quatro foram em contra-ataques. E teriam sido cinco caso um pênalti, conquistado após o Slovan acertar a trave e sofrer outro contra-ataque, tivesse sido aproveitado. Já do hat-trick de Lacný no primeiro tempo, nenhum tinha o goleiro pela frente: foram em rebotes ou passes-presente para ele ficar com uma glória minimamente digna.
As faltas violentas, por sua vez, vieram na esteira da goleada, quando alguns jogadores visitantes partiram para a deslealdade sobre adversários que não faziam nada mais que jogar. Em momento algum houve o desrespeito materializado em toques improdutivos, embaixadas inúteis, reboladinhas em frente aos derrotados e todas aquelas palhaçadas que alguns brasileiros eu-me-acho-craque-só-porque-sou-boleiro-carioca gostam de fazer – não estranhe então que um dos caçadores mais empertigados fosse o brasileiro Diogo Pires, merecedor do cartão amarelo recebido. Curiosamente, a única expulsão recaiu sobre um atleta da casa, Stefan Zosak. O cartão vermelho, contudo, resultou de sua chatice e não de alguma desmesura faltosa. De tanto reclamar do árbitro, o metido a meio-campista talentoso e temperamental deixou o jogo quando faltavam pouco mais de 20 minutos para o fim do match. Mas há que se admitir que ele marcou o quinto e mais belo gol do Ruzomberok, tocando por sobre o goleiro Dominik Rodinger, já cansado de tanto fazer cara de desilusão.
Sobre a desventura do Slovan, além do lance que resultou em pênalti acima citado, cabe a descrição de outro movimento intenso. Quando o placar já assinalava 4x1, Kozák invadiu a área aos dribles e trancos e cruzou da linha de fundo, Pavol Masarik chutou para difícil defesa do goleiro Pavol Penksa, no rebote o zagueiro Peter Majerník cabeceou para trás, atingindo o próprio travessão. A bola voltaria nos pés de Matej Iztovolt que meio-furou em bola. O chute flatulento permitiu a mansa chegada do esférico às mãos do keeper. O toque final foi sinal de incompetência, mas em meio ao contexto pareceu puro infortúnio. Questão de perspectiva (ou identidade de quem é torcedor e confere ao azar o gol perdido pelo seu time).
A jornada inusitada teve ainda o protagonismo dos ultras de Bratislava. Pois após o quinto gol, não houve como resistir. A besta humana despertou e virou atração principal. Não houve violência entre torcedores adversários, mas chamas nos assentos destinados aos visitantes, sinalizadores arremessados ao campo e ameaças de invasão. O mais curioso a respeito tais atos, é que nada foi feito para conter a baderna. O público ao redor assistia impassível, a segurança olhava à distância, os principais agentes do hooliganism deixaram o estádio antes do final do jogo mirando sua obra destrutiva ao longe e rindo. Afinal, a besta humana também é covarde. Admito que não houve consequência grave, apenas fumaça e desfaçatez. Foi o olhar de normalidade de todos os presentes que, ao fim de tudo, deixou este que voz escreve um tanto atônito. A face dos torcedores parecia dizer que aquilo era rotineiro, inevitável e, de tanta repetição, chato. Estariam os eslovacos com saudade da Tcheca?