domingo, 12 de abril de 2009

Derry City x Sligo Rovers

Da direita para a esquerda: O entardecer de Derry; Boco, o capitão de Benin sorri após seu gol para o Sligo; a bola encontra a rede no empate do Derry City; "Está frio e eu quero uma cabine de imprensa"; Cretaro parte para a glória; fãs do Sligo Rovers celebram a vitória inesperada. Fotos: Alessandro Bracht (com colaboração de "a mãozinha")


Jogo: Derry City 1 x 2 Sligo Rovers
Data: 10 de abril de 2009
Competição: FAI Premier Division
Local: The Brandywell
Público: meia-boca, em um estádio para 7.700 pessoas

Apreciar uma partida do futebol irlandês, mas especificamente da Republica da Irlanda (Ulster) – a porção norte e católica, de antigas inspirações separatistas é uma tarefa para fãs de futebol for real. As razões para tanto são aquelas que se repetem em outros tantos terceiros mundos futebolísticos. Mas estar em Derry ou torcer pelo time local pode representar bem mais que apenas adorar o futebol. Pois Derry – ou Londonderry ou ainda Doire Cholm Cille, caso você prefira falar em Irlandês – é uma cidade com pouco menos de 90 mil habitantes marcada por um fato doloroso na luta pelo direito de independência da Irlanda do Norte: o Domingo Sangrento (sim, aquele mesmo de Sunday Bloody Sunday, sucesso do ‘Udois’ nos primórdios da década de 1980), ocorrido em 30 de janeiro de 1972, quando 27 pessoas foram atingidas por tiros disparados por um batalhão do exército britânico “especialmente treinado para tais casos” durante uma passeata da Northern Ireland Civil Rights Association. 14 teriam morrido automaticamente. As demais viriam a falecer em função de complicações atreladas aos ferimentos sofridos naquele dia (recomendo que você saiba mais sobre o caso, ainda em aberto).
Sobre ser fã de futebol em Ulster, e assim falar do futebol em si mesmo, merece o olhar de quem aguarda pela emoção. Nada de arte (e quem precisa de tal frescura senão os adoradores da intragável seleção brasileira?). Pois até o 39 minutos do primeiro tempo, as ações no ataque eram esparsas e incapazes de oferecer grandes emoções. Em suma, uma chance viva para cada equipe. Por volta dos 20 minutos, o Sligo Rovers, vestindo seu kit reserva negro, teve a sua. Após um inspirado e individual avanço pela ponta esquerda, já de dentro da área, a bola é recuada para Romuald Boco, crack do scratch e também capitão da seleção de Benin. Ele chutou rasteiro, forte, mas o goleiro Gerard Doherty fez uma defesa digna de “as melhores da semana”. Para o Derry, um daqueles tradicionais cruzamentos britânicos, altos e diretos do bico da área, transformou-se em cabeçada no travessão. Entre os dois lances, o City reclamou de um pênalti em Sammy Morow, um lance tosco do defensor Danny Ventre, aquele em que tentar afastar a bola significa chutar a própria, o jogador e a grama ao mesmo tempo. Mas então chegam os 39 minutos. Gol dos Rovers. Um minuto depois, o empate do Derry. Uma rede ainda sacudia quando a outra também sacudiu. Emoções intensas que, em minha modesta visão futebolística, surgem como devida resposta. Até porque os gols não foram quaisquer coisas. No primeiro, Owen Morrison (ex-jogador do Derry City) lançou Boco pela meia-esquerda. O beninense avançou velozmente e chutou em diagonal. A saída arrojada de Doherty resultou apenas em sua aparição na foto - aqui, talvez, resida a resposta para a questão 5. O gol da igualdade partiu de um cruzamento de Sammy Morow em direção ao segundo poste. Gareth McGlynn, atrás da zaga e livre para chutar, acertou a bola num voleio para sua própria história. Os bons ventos dos tentos imediatos empurraram o segundo tempo rumo a uma quantidade maior de emoções. No seu princípio, McGlynn foi impedido de marcar por Brush, goleiro dos Rovers. Aos 19 minutos, Rafael Cretaro, o menor jogador em campo, quase marcou de cabeça e dois minutos depois Brush viraria seu duelo pessoal com McGlynn. Loucos pela vitória e consequente liderança segura, os Candystripes reclamaram mais dois pênaltis, ambos resultantes de toques involuntários com a mão dos inabilidosos defensores do Sligo Rovers, para lá de satisfeitos com o empate. Entretanto, aos 44 minutos, o grau de satisfação aumentou graças a falha final da partida. Ao tentar um simples passe lateral na linha de meio de campo, o defensor Delaney entregou a bola aos pés do pequeno Cretaro. Seu rápido avanço resultou no segundo e derradeiro gol. A dezena de torcedores visitantes comemorou, ainda que as camisas listradas em branco e vermelho tenham gerado uma confusão inicial pois à distância idênticas a dos locais. Nos quatro minutos de acréscimo as muitas bolas altas na área dos Rovers, portanto, premiaram a defesa. Final de jogo e muita celebração dos vitoriosos. Seria a principal razão a vitória em si, a quebra de um tabu de 10 anos sem vencer na casa do City ou o afastamento tênue da zona de playoffs para o rebaixamento? Essa é uma pergunta que fica sem resposta definitiva. Mas, perante o próprio futebol, que diferença faz?