segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Montevarchi Calcio Aquila 1902 x ACD Guidonia Montecelio

Da esquerda para a direita: Leto engata a marcha para cobrar a falta; a bola ruma veloz para o alvo; a rede estufada confere maior beleza ao lance; os ultras do Montevarchi preparados para a batalha; Fiorindo, o massagista que queria ser árbitro; Emanuel Opara sob o sol da Toscana. Fotos: Alessandro Bracht


Jogo: Montevarchi Calcio Aquila 1902 1x2 ACD Guidonia Montecelio
Data: 11 de outubro de 2009
Competição: Calcio Serie D
Local: Stadio Comunale Gastone Brilli Peri
Público: menos de 1% da população local

O futebol italiano anda meio chato. Pelo menos aquele que nos chega: a Serie A do Calcio. Ainda que a maioria das grandes ligas européias não conte com mais que quatro postulantes ao título de campeão, o que já rouba parte da emoção, apenas na Itália existe candidato único, que é a tal Internazionale. Juventus, Milan e Roma e afins ficam por ali, lutando por vagas na UEFA Champions League e isso já faz uns bons quatro anos que acontece. Portanto, mediante essa perspectiva, o melhor maneira de apreciar o calcio é isolar os eventos do contexto maior. Rivalidades locais viram atração e podem surpreender (quando não é o derby milanista). Os estádios dos tempos do cimento fazem lembrar dias menos capitalistas. As fissuras políticas – caso dos conflitos entre o setor fascista da Lazio e os esquerdistas do pequeno Livorno – remetem aos dias de velha ordem mundial. Paolo Di Canio (o vilão) e Cristiano Lucarelli (o herói que não o quer ser), punidos de formas diferentes por pensarem e levarem a política para dentro de campo. Na verdade, não é o futebol italiano que está chato. O mundo sem ideologias e com assentos marcados está chato! E pensando assim o futebol italiano deixa de ser chato porque reúne elementos para não ser chato, fora o fato de se saber de antemão o futuro dono do scudetto. Felizes dos fanáticos torcedores brasileiros da Internazionale! Ah, como é bom torcer pela equipe de Milão em Teresina ou em Macapá! Viva a desterritorialização do futebol! Viva a globalização!
Chega de acidez, vamos ao futebol. A Serie D do calcio é a principal liga amadora na Itália. Acima dela estão as quatro divisões profissionais: Serie A, Serie B, Serie C1 e Serie C2. Portanto, oficialmente, os atletas dos clubes envolvidos na disputa não deveriam receber para estarem em campo. Ainda que sem provas, creio que, pelo visto na partida entre Montevarchi e Guidonia, não é o que ocorre. Havia claro sintomas de profissionalismo em campo, revelados especialmente pela velocidade dos movimentos e pela habilidade individual de alguns atletas. O gol de Antonio Leto, do Montevarchi, surgiu a partir de uma cobrança de falta primorosa. Um daqueles chutes potentes que passa sobre a barreira e desce velozmente sem dar muita chance de ação para o goleiro, no presente caso, Emanuel Opara, que apesar do fenótipo afro, é italiano de berço. Sem muita precisão, creio que o chute foi desferido há uns 30 metros de distância do gol. O narrador italiano fez o comentário adequado: “um gol de cinemateca!”. Ao fim, apesar da derrota de seu time, Leto mostrou qualidade que, se repetíveis em outras ocasiões, poderiam fazê-lo pensar em algo maior para sua carreira futebolística. O segundo gol do Guidonia também ocorreu graças a uma conclusão de longa distância. Não era cobrança de falta, não havia barreira, mas a bola passou entre diversos corpos e encontrou a rede do guarda-metas Lorenzo Colcelli após percorrer praticamente a mesma distância do chute de Leto. Esse seria o tento da vitória, confirmada ainda no primeiro tempo – o outro gol, primeiro do gioco, foi do defensor Emanuele Razzini. Mas poderia ter sido diferente. Na segunda etapa, Opara fez defesas difíceis, quase cometeu uma falha ridícula que o recolocaria no banco de reservas e ainda contou com outras conclusões erradas dos jogadores da equipe local. Se mãos na cabeça por gols perdidos resultassem em algum benefício, os locais teriam alcançado algo melhor.
No mais, destaque para o massagista Fiorindo Zuconelli, que parece ter sonhado se tornar árbitro, mas não conseguiu. Não que ele tenha ficado a beira do campo querendo apitar, como se diz daquele integrante da comissão técnica que não para de aporrinhar o juiz e principalmente seus assistentes. Suas vestes é que denunciam o fato: camiseta amarela, calção preto e meias pretas esticadas até o joelho. Quando o vi em campo pela primeira vez, atendendo um atleta supostamente lesionado, achei que fosse realmente o homem do apito dando uma assistência face a falta de pessoal especializado na região da Toscana.

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