segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Estonija x Bosna i Hercegovina

Da esquerda para a direita: Misimovic faz um esforço sobre-humano em busca do gol; mas a bola fica nas mãos do goleiro Sergei Pareiko; os torcedores da Bósnia pensam na África do Sul; dois momentos de invocação religiosa entre os sinigärgid: Pareiko de joelhos parece rezar pelo fim e Alo Bärengrub é influenciado pelo islamismo bósnio; um tapa nas costa afirma: "calma, camarada, já vai acabar". Fotos: Alessandro Bracht


Jogo: Estonija 0 x 2 Bosna i Hercegovina
Data: 10 de outubro de 2009
Competição: Eliminatórias para a Copa do Mundo 2010
Local: A. Le Coq Arena
Público: De regular para bom

O jogo pode ser mirado pelas mais diversas perspectivas, da mais sorridente a mais perversa. Em se tratando do futebol, então, o sorriso e a perversão parecem estar unidos o tempo inteiro. O confronto entre Estônia e Bósnia e Herzegovina, válido pelas eliminatórias européias para a Copa do Mundo da África do Sul no ano vindouro, abriu possibilidades nesse sentido, mas as extremas, a mais doce e a mais amarga, venceram, em acordo com minha totalitária eleição: a constante vaia dos torcedores estonianos perante a preguiça de seus representantes (amarga, até demais) e a grande chance da Bósnia, um país que ainda estanca e costura o sangramento, estar “lá” em 2010 (doce, mas ainda não plenamente açucarada) merecem minha dedicação.
A partir do que foi visto no Nike-friendly match entre os sinigärgid e o Brasil-preguiça em agosto, parecia que a ex-república da extinta CCCP não era tão futebolisticamente frágil. Um pouco violenta quiçá. Fora isso, algo de promissor parecia estar por lá. Engano. O broxismo brasileiro no amistoso promovido para vender artigos esportivos explica essa impressão errada, pois a seleção estoniana é vergonhosa. E não pelo mau futebol exatamente, mas pela falta de vontade. Mesmo levando em consideração que a Estônia já estava previamente eliminada antes mesmo da partida em questão, entrar em campo de má vontade é inaceitável. Eu abomino a vaia em jogos de futebol. Fiquem em casa os que vaiam, recomendo. O estádio é para torcedores. Mas nesse caso, elas foram justas, procedentes certamente. Para um jovem Estado-nação como a Estônia, emergida da falência do desnacionalizante socialismo real, vencer um jogo ou perder lutando bravamente seria razão para os integrantes do Jalgpallihaigla (Hospital do Futebol) deixarem o estádio e beberem inúmeras cervejas orgulhosamente. Vontade e garra, e quando possível vitórias, são o que os torcedores mais desejam. Se elas não existem, pouco sobra. Mas eles não puderam fazer isso. Beber talvez sim, mas sem orgulho, o que encaminha a frustração, a dor de cabeça sem alegria, a ressaca moral de quem se emborracha, mas não para celebrar.
A Bósnia e Herzegovina, contudo, abriu sorrisos. De orgulho e esperança. Graças ao 0x2, a terra dos muçulmanos no Bálcãs irá disputar uma vaga na repescagem européia (o primeiro lugar do grupo E ficou com a eterna candidata ao título, a Espanha). O adversário, ainda desconhecido, que me perdoe. Mas eu quero a Bósnia na Copa do Mundo. Assim como adorei ver a Croácia e a Eslovênia em outras edições.Toda e qualquer alegria que emane da extinta Iugoslávia merece o valor de uma paixão correspondida ou do sorriso do Marechal Tito (a Sérvia - ainda unida a Montenegro - promoveu um dos mais tristes espetáculos da última Copa. Não mereciam 2010, mas já estão lá).
Falta o jogo em si mesmo. Assim como não falta muito para falar dele. A má vontade estoniana gerou lentidão e passes para os lados quando da posse de bola e marcação sonolenta quando o objeto estava nos pés do adversário. Aos bósnios, aproveitar a fraqueza do oponente, marcar um gol em cada tempo e, depois disso, imitá-lo. Os tentos foram quase assim. Alguém com sobrenome finalizado em ‘ic’ (itch) passou para outro jogador com sobrenome finalizado em ‘ic’ (itch) que cruzou para outro ‘ic’(itch). Gol da Bósnia-Herzegovina. Como eu disse, quase assim. Pois o primeiro gol foi do único não-ic (não-itch) da seleção bósnia: Edin Dzeko, aos 30 minutos. O segundo foi. Vedad Ibisevic garantiu a vitória numa tradicional linha de passes entre ‘itches’ que o deixou na frente do goleiro Sergei Pareiko, por volta dos 65’. Agora resta esperar pelos jogos decisivos de ida e volta. Não entendeu ainda porque a dedicação a causa futebolística da Bósnia? Então leia as HQs ‘Área de Segurança: Gorazde’ e ‘Uma história de Sarajevo’, ambas de Joe Sacco. Ah, não gosta de ler? Também não sabe o que é HQ? Então [piiiiiii], alienado de [piiiiii]! Vá torcer feito boneca de plástico e participar das comunidades do Orkut do Chelsea, do Manchester United ou do Real Madrid! Esse é seu papel. Bundão!

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