domingo, 8 de março de 2009

Racing Club x Argentinos Juniors

Da direita para a esquerda: La Guardia Imperial a espera de dias melhores; Lucero mergulha para marcar o gol do Racing; comemoração que pareceria poder se estender até o apito final; a saída desastrada de Campagnuolo permite o empate do Argentinos Juniors; Apesar de parcer crueldade, jogadores do Argentinos celebram o empate; Caruso cerra os olhos para não enxergar a tristeza.


Jogo: Racing Club 1 x 1 Argentinos Juniors
Data: 28 de fevereiro de 2009
Competição: Torneo A Clausura 2009
Local: Estadio Juan Domingo Perón
Público: não divulgado, mas tinha bastante gente

Apoiar um clube de futebol não é exatamente uma escolha. Se com você ocorreu de estar ao lado do time que escolheu, você surgiu como um torcedor de ocasião. Seleção racional pelo mais forte que, em se tratando dos rumos do futebol no presente, pode deixar você pelo caminho. Afinal, o investidor russo ou saudita pode simplesmente abandonar a causa para adquirir um time de futebol americano e aí seu clube pode ser rebaixado e seus jogos não mais irão ser transmitidos pela televisão. Mas se esse for seu caso, basta escolher outro. Fácil assim.
Quando Grêmio e Palmeiras viveram seus dias de glória nos anos 1990 (e de ódio mútuo!), suas torcidas incharam com os ocasionais. Quando, por razões diferentes e formas similares, foram rebaixados, os ocasionais desapareceram e foram fazer outra coisa. Melhor assim!
Se apoiar um clube fosse fácil assim, eu poderia aconselhá-los. Jamais torçam para qualquer time chamado Racing. As razões se multiplicam em função da existência de pelos menos três clubes profissionais como o mesmo nome. Mas basta lembrar um, o mais célebre, Racing Club de Avellaneda, que definha há anos. Enorme em torcida e em passado – maior campeão argentino da era amadora, campeão da Libertadores da América em 1967, primeiro campeão mundial interclubes no mesmo ano – o Racing Club esteve perto de decretar falência e fechar as portas em 1999. No Apertura do ano seguinte viria o primeiro título da era profissional depois de algo como 33 anos, uma espécie de milagre em meio ao caos. Mas foi só. Um bom bonairense, que pouco se liga em futebol, relatou-me que a celebração dos hinchas do Racing naquela ocasião foi a única vez que o futebol lhe emocionou verdadeiramene. Lamento por ele, mas a comoção de um não-fã é reveladora da dimensão do fato.
Depois disso, a tragédia voltou a rondar o Cilindro de Avellaneda. Ao final do Clausura de 2008, o Racing Club quase foi rebaixado. Humilhação maior em um país que conta com o mecanismo protecionanista dos promedios para evitar a queda dos grandes. Em dois jogos contra o Club Atletico Belgrano de Córdoba, o Racing escapou de rumar para a Primera B, da qual é muito difícil sair. A segunda divisão da argentina não é para os fracos e também não é como no Brasil, onde os grandes sempre sobem, mesmo que seja de forma inacreditável, com sete jogadores em campo.
Ah, o jogo. Não há muito o que dizer do esperado. O Racing jogou intensamente na estréia de seu novo técnico, Ricardo Caruso Lombardi, atacou el partido inteiro, marcou um lindo gol no princípio do segundo tempo (Eis a descrição do Diário Olé: “Fue una jugada digna de un equipo con sólidos fundamentos ofensivos. Mercado pasó al ataque, ensayó la pared con Sosa, el volante derecho, cambió el sentido del juego con otra pared, esta vez con González, y culminó su faena con el preciso centro (nada de cerrar los ojos y pegarle al arco) para el cabezazo de Lucero”) e aos 92 minutos sofreu o empate do frágil Argentino Juniors numa saída mais que cagada do goleiro Gustavo Campagnuolo, um dos heróis de 2001, após a cobrança de uma falta que não existiu. Campagnuolo é o goleiro que todos adoram, mas ninguém quer ter em seu clube. Então será que algo melhor poderia ser esperado? Creio que não. Pois quando o primeiro tempo estava muito próximo do final, um comentarista da televisão argentina afirmou algo como “Não sei se o Racing merece um gol, mas Luguercio sim”. Luguercio é um jogador que deixou a reserva absoluta do Estudiantes de La Plata para ser titular e símbolo de dedicação no Racing Club. O tipo que transpira muito mais que produz. Ele esteve presente em todas as chances do gol do Racing, menos naquela que virou gol. Definitivamente, não se trata de mera coincidência.

P.S.: Se porventura houver algum leitor e este considerar que um jogo do campeonato argentino da primeira divisão entre duas equipes tradicionais não pode ser considerado futebol na terra de ninguém, consulte a primeira postagem do blog.

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