sábado, 21 de março de 2009

Górnik Zabrze x Lech Poznan

Da direita para a esquerda: Como se chama uma torcida no leste europeu? TORCIDA!; lado a lado, bandeiras do Górnik e do Lech; os "perigosos" torcedores poloneses; Marciniak tem tempo de assistir seu próprio gol; o princípio de uma comemoração inesperada; a queda após queda: o empate no último instante mantém o Górnik em último lugar. Fotos: Alessandro Bracht


Jogo: Górnik Zabrze 1 x 1 Lech Poznan
Data: 14 de março de 2009
Competição: Ekstraklasa
Local: Stadim Ernesta Pohla (estádio Ernest Pohl)
Público: algo como 15 mil torcedores

Foi um grande jogo. Inesperado, claro. Em se tratando de um futebol praticamente invisível, o confronto entre o primeiro contra o último colocado do campeonato polonês da primeira divisão – Ekstraklasa é seu nome – deixou a impressão de que algo diferente está acontecendo no frio do leste europeu. Diferente não apenas pela beleza do futebol apresentado, mas porque ao longo dos últimos anos a Polônia foi um dos tantos países do finado socialismo real que viram seus estádios transformados em palcos de hooliganism, nazirracismo e corrupção. As brigas entre torcedores rivais tornaram-se rotina e sintoma do descontrole legal provocado pelo fim da repressão política. As imagens do jogador nigeriano naturalizado Emanuel Olisadele sendo alvo de bananas arremessadas por ultradireitistas durante partidas em estádios acanhados reproduziram orgulhosamente o comportamento dos hooligans britânicos na metade dos anos 1980. Além de toda essa violência física e simbólica, ao final da temporada 2006/2007, sete clubes da primeira e segunda divisões foram punidos com o rebaixamento e/ou perda de pontos por envolvimento em um escândalo de corrupção – o Lech Poznan, apesar de citado, não teve as provas necessárias reunidas para ser incluído entre os acusados. Enfim, no empobrecido leste pós-socialista, apenas o de sempre: a máfia das apostas controlando resultados. Dito isso, estádio lotado, sendo este a casa do lanterna, não surgia como uma possibilidade real. Mas aconteceu e não poderia ser mais justo. Teria o futebol vencido mais uma vez? Um único jogo não pode responder. A ele então!
Após o minuto de silêncio em tributo a um ídolo do Górnik recém falecido – o qual, por mais que tenha me esforçado, não consegui descobrir o nome –, o que seu viu foi um match frenético tanto no campo como nas arquibancadas. Nos primeiro cinco minutos, os Górnik e Lech dividiram quatro chances dignas de gol. Ainda nos 40 e poucos minutos seguintes elas tenham se tornado mais esparsas, os goleiros Sebastian Novak e Krzysztof Kotorowski foram as figuras mais destacadas – ao lado dos atacantes, mas estes por sua ineficiência em meio a defesas que marcavam caridosamente. Assim foram-se os primeiros 45 minutos e seus acréscimos.
Em um segundo tempo ainda melhor, a torcida da casa encheu o estádio de som e fúria quando Adam Marciniak chutou de uma distância incalculável uma bola que curva que encerrou sua trajetória na rede do Lech. A partir daí ocorreu o óbvio: o Górnik encerrado em sua defesa, não atacando mesmo quando podia, e o time visitante contabilizando muitas chances e fazendo do goleiro Novak um ídolo momentâneo. E foi assim até os descontos. Mas não até o final porque o último cruzamento para a área dos acuados, rasteiro, em meio a diversos jogadores transformou-se no autogol de Pavel Strak e, consequentemente, no empate do Lech. Atrás dele estavam dois atacantes loucos para receber a fama. Strak não deixou. Quando a saída de bola era dada, ele ainda bateu palmas e emendou um “vamos lá” polaco. Mas quem acreditaria que no minuto final de descontos as palavras motivadoras do agente principal de mais um fracasso teriam algum efeito? Enfim, é disso que se fazem líderes e lanternas.
Ao último apito, os atletas do Górnik dividiram-se entre aqueles que desabaram no gramado e outros que não podiam mais que sacudir negativamente suas cabeças perante um estádio quase todo em silêncio. Se a decepção pode oferecer belas imagens, a esperança também: o colombiano Manuel Arboleda, afrodescendente e jogador do Lech, foi cercado por crianças em busca de um autógrafo. Eu lhes garanto: isso não é pouco.

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