sábado, 13 de agosto de 2011

NK Zagreb x NK Karlovac

Da esquerda para a direita: sem ansiedade ou pressa, a torcida local vai ocupando seus assentos; no cimento do lado oposto, os ultras do Karlovac fazem barulho; as bandeiras movimentam-se ao sabor da brisa do verão; o radialista sem cabine narra a partida entre os mortais; jogadores do Zagreb comemoram seu primeiro e suado tento; mais uma conclusão do Karlovac fica no quase. Fotos: Alessandro Bracht (com cerveja!)

Jogo: NK Zagreb 3x0 NK Karlovac
Data: 29 de julho de 2011
Competição: Prva HNL
Local: Stadion Kranjčevićeva
Público: Por volta de 1500 expectadores

“It will be lousy”. A definição das possibilidades de meu primeiro jogo em território europeu, dada pelo bartender de um dos tantos restobares da Old Town de Zagreb, foi motivante. E não se trata de ironia. Quando alguém me diz que um jogo de futebol tem tudo para ser péssimo, eu o desejo mais ainda. Excentricidade, mania de ser diferente – as acusações são sempre as mesmas. Em minha defesa, também o de sempre: acredito que o futebol da periferia é mais verdadeiro, não reúne fãs de ocasião, não navega ao sabor da moda – ontem Chelsea e Madrid, hoje Barcelona e Manchester United. É uma lógica simples, que divido com quase ninguém. Ao sair do hotel e pedir uma informação sobre a direção do estádio, as palavras de apoio seguiram, dessa vez do desiludido recepcionista. Ele afirmou que eu estava indo em busca de algo que não existe, ou seja, futebol na Croácia para além das duas equipes que se alternam na conquista da liga local: Hajduk Split e a NK Dinamo Zagreb (momentaneamente, nenhuma das equipes lidera o torneio, mas é apenas o começo).Óbvio que acusar as duas percepções sobre o jogo para o qual rumava de excessivas não seria justo. Por que então gostar tanto do vivido no confronto entre os ‘Poetas’ – apelido do Zagreb por conta de seu endereço, que leva o nome do poeta croata Silvije Strahimir Kranjčević – e o time da cidade vizinha de Karlovac? Para começar, pude ir caminhando até o estádio, algo que não fazia há quase dois anos. Esse pequeno e breve ato tem sabor de dias felizes que não voltam mais, mais certamente ainda a partir de 2013. Outro sabor de dias felizes que reexperimentei foi o de tomar cerveja nas dependências do estádio – prazer que me foi roubado há mais tempo ainda. De resto, ainda que não uma grande novidade para mim, interagir com os torcedores locais – um deles inclusive pedindo dicas a respeito de jogos brasileiros nos quais ele apostava –, a atmosfera razoavelmente barulhenta causada pela presença de torcedores visitantes e o futebol em si mesmo (mais a noite quente que demora a chegar no verão do velho mundo) explicam meu regozijo. De resto, apesar dos tempos bicudos, o futebol croata já revelou jogadores de expressão internacional como Davor Suker, Svonimir Boban, Robert Prosinečki, (estes da vitoriosa campanha na Copa do Mundo de 1998), Niko Kranjcar e Eduardo da Silva, brasileiro naturalizado croata e de boa passagem pelo Arsenal. Quem sabe eu não estava presenciando o despertar de um novo talento no próprio berço (digo isso lembrando de um clássico de Avellaneda ao qual estive presente em 2006 e que, para minha momentânea tristeza, teve como personagem principal Sergio Aguero)?
Os movimentos da partida lembraram aquilo que já vi em quantidades no meu próprio terreiro (se bem que depois de tanto futebol nessa vida, o que eu ainda não vi acontecer quando rola a pelota?), ou seja, a lógica de um jogo marcado pela paridade de domínio territorial e situações de gol seguido por um placar que representa apenas o fato de que, na hora de colocar a bola na rede, o time mais tradicional se impôs – os campeonatos estaduais no Brasil são exemplares nesse sentido. Dito isso, uma breve descrição dos gols marcados pelo NK Zagreb e de alguns dos muitos perdidos pelo NK Karlovac, para fechar a conta: aos 28, Nicola Frljužec invadiu a área pela direita e chutou forte, meia altura, cruzado. O esforçado keeper Igor Lovrić não fechou a porta como até então havia feito. O avante Frljužec ainda perderia de marcar novamente duas vezes ainda no primeiro tempo. Na etapa final, em seus primeiros 20 minutos, o Karlovac foi para frente e teve três boas chances, duas delas com o bósnio Edin Husic, misteriosamente na reserva de um time de tão pouco talento na hora de concluir. O mesmo pouco talento que fez Stjepan Kokot e Tomislav Ivičić perderem outras oportunidades de ouro, o primeiro com os pés e o segundo com a cabeça, quando na frente existia apenas no goleiro Igor Vidaković. Cansados de emoções fortes e do nervosismo da plateia, o Zagreb resolveu o jogo. Aos 73 minutos, em contraataque forjado após a zaga afastar cobrança de escanteio, Josip Jurendić cruza para área e Vedran Celišćak pega de voleio e marca um gol de fazer a noite de futebol valer mais ainda. Na comemoração, ele acena para seus familiares e chupa o dedo (eis o único elo que essencialmente encontrei entre este e qualquer jogo de um das grandes ligas mundo afora). Pouco mais tarde, aos 83’, o capitão Vedran Celišćak encerra os trabalhos ao receber passe dentro da área, domina e chutar rasteiro. A alegria dos locais está completa; os ultras do Karlovac, encerrados num espaço cercado do estádio, recolhem suas faixas. E eu corro em direção ao Medvedgrad para tomar a melhor cerveja artesanal e comer a melhor comida típica em minha última noite de Zagreb.

Nenhum comentário:

Postar um comentário